domingo, 22 de setembro de 2013

Personagens típicos de um coletivo


Heeeey, quem tava com saudades do blog?

~grilos cantando~

Enfim, voltei mesmo sem ninguém desejar porque tava afim de postar alguma coisa, e também pra manter esse blog ativo pelo menos uma vez ao ano, visto que mal tenho tempo de me coçar depois que adquiri o combo trabalho+faculdade+inglês. E o assunto do post é sobre uma coisa que eu amo incondicionalmente: ônibus =/.

Ultimamente os coletivos viraram um centro de compras e negócios: de tudo se vende lá dentro, desde a caneta esferográfica super slim ponta macia até o espremedor mágico de laranjas (com demonstração de uso no meio do ônibus). Chama a atenção também as pessoas que querem a sua ajuda para sustentar a família e aqueles que enchem a cara de cachaça e vem desopilar a mente com o motorista. Podemos analisar todas essas personalidades nos seguintes segmentos:


A buchuda equilibrista

 


Ela geralmente entra pela frente, pois é gestante e carrega em média três a quatro crianças (uma no braço, uma puxando pela mão, uma no bucho e outra no pensamento) (é, piadinha velha, eu sei). Começa tomando a atenção dos passageiros chamando-os de "minha gente" e falando da sua sofrível vida em alguma comunidade carente desta cidade. Algumas ainda dizem que seus maridos estão presos ou que estão lutando pelo pão diário em algum emprego sacrificante.

Ela domina com categoria a arte de se equilibrar, pois carrega uma criança no braço, se segura no ferro do ônibus e segura a barriga. A criança que ela puxava pela mão já saiu desgovernada no meio do corredor.

Pede uma humilde ajuda, podendo ser de qualquer valor. Neste momento, a criança que ela leva no braço começa a chorar, mas é um choro de fome, sabe, aquele que você sente um dó instantâneo e quer ajudar nem que seja pra pedir que o menino se cale pelo amor de Deus.

Depois dela falar tanta coisa que, se você não ajudar, vai se sentir o pior dos seres humanos, muitas pessoas de bom coração doam, e ela sai do ônibus agradecendo à todos e à Deus, pedindo que Ele abençõe cada um. Quando ela desce, alguma pessoa fala em tom de reprovação que ela é sem-vergonha, ou maltrata as crianças, ou recebe bolsa-família mas ainda pede porque não tá afim de trabalhar. Ás vezes aparece alguma pessoa que diz "ESSA DAÍ DEVIA ERA ARRUMAR UMA LAVAGEM DE ROUPA".

Quem agrada: Mulheres que já são mães, pois elas lembram de sua vida e se colocam no lugar dela. Pais de família que ficam com pena dela levar tantas crianças, ainda mais quando lembram dos seus próprios filhos que enchem o saco.
Quem perturba: Jovens que estão ouvindo música no mp3 player que se sentem incomodados com o barulho das crianças chorando. O motorista, pois tem que passar muito tempo parado até que todas as crianças descam do ônibus com segurança.



Os abençoados vendedores




Eles surgem quando você menos espera: quando você está cochilando ou quando está conversando algum assunto muito importante com alguém no celular. O tom de voz grave deles é proporcional ao susto que você leva quando escuta. Há uma categoria que solicita a gentileza de alguém em pagar a passagem da pessoa para que ela possa fazer a obra social na frente do ônibus. Tem alguns vendedores, mais determinados, que já entram pela frente mesmo.

Ao entrar no coletivo, eles distribuem o item à venda para todos os passageiros, que ficam segurando-o até ele terminar de contar a maravilha que é você possuir aquele item. Dizem que é de um material de extrema qualidade, que é saudável, que é ecológico, que é prático, que é lindo-bonito-joiado, que possui certificação ISO 9001, que emagrece, que é afrodisíaco, que é econômico, que é destinado especialmente para você o ter.

É normal o objeto a venda já estar meio amassado, devido a muitas pessoas já terem o recebido, olhado, apertado, quebrado, ensebado e não terem comprado. Tem promoções: compre uma pastilha por 0,50 centavos, três por 1 real, sete por 2 reais, quinze por 5 reais e se você quiser a caixa toda, eles estão abertos a negociações.

Usam sempre o nome de Jesus para abençoar as vendas e a vida de todos. Agradecem por terem comprado (mesmo se ninguém tiver comprado nada) (descem do ônibus putos por terem perdido tempo/passcard).

Quem agrada: Pessoas que tem compulsão por compras, e que se sentem realmente as privilegiadas por comprar o produto. Crianças que se enfeitiçam com os brindes, sem saber que ao brincar por um curto espaço de tempo, eles quebram.
Quem perturba: Aqueles que estavam dormindo e acordaram com um susto pensando que era alguém anunciando um assalto. O cobrador, que já está cansado de ver tantas coisas pra comprar e nunca ganhar um brinde deles.



O bêbado mala




De longe já é possível notar a presença dele ao sentir o forte cheiro de álcool. Ele já entra no ônibus dando trabalho, quer sentar nos degraus da entrada, em meio a várias pessoas que sobem junto com ele. Se não, se 'escora' no ferro do coletivo ou em alguém, e logo pergunta pra onde esse ônibus está indo e/ou desata a  falar de sua vida triste e sofrida.

Acreditando que todos estão ouvindo atentamente o que ele tem a dizer, solta palavras desconexas e frases repetitivas, como "não aguento mais ser pobre" ou "minha mulher me chifrou". Alguns são mais ousados e esculhambam os passageiros, como "só tem gente feia aqui" ou "esse cobrador é viado".

Para pagar a passagem, a gaiatice dá lugar a preocupação. Revira todos os bolsos, se senta no chão pra procurar, só falta tirar as calças e balançar pra ver se cai alguma moeda. Encontra algumas notas de R$ 2 e R$ 5 amassadas dentro da carteira, geralmente de algum time de futebol. Quando não encontra, existem ainda pessoas que utilizam seu Passcard e liberam a catraca pra ele. Ele agradece beijando e abraçando a pessoa, e dizendo que na próxima vez que for ao bar, vai convidá-la pra tomar umas.

Quando o ônibus dá alguma freada brusca, mais um dilema: ele é jogado pra frente, mas cai geralmente nas pernas de alguém que está sentado, de preferência mulheres na faixa etária entre 18-75 anos. Em seguida ele é enxotado, cai no chão e começa a chorar, dizendo que nessa vida dura ninguém nunca o amou de verdade, apenas sua mãe querida.

Depois de falar alto, tirar brincadeiras com todos, xingar o motorista, querer pegar o dinheiro das passagens com o cobrador para jogar pros passageiros, ele finalmente desce do coletivo, quase caindo na calçada. Xinga mais uma vez o motorista e vai em direção ao primeiro bar que encontrar.

Quem agrada: Tem quem goste? Não. Casos raros mostram que algumas pessoas interagem com ele, geralmente outros bêbados. Aliás, bêbado e mala são sinônimos.
Quem perturba: Todos. principalmente mulheres bonitas que são sondadas por ele e pessoas desprovidas de beleza, alvos fáceis pra ele fazer hora com a cara delas.



Existem ainda outras personalidades conhecidas habitualmente dentro dos ônibus, mas não vou tratar delas aqui nesta postagem porque já chega, né. Aliás, essa postagem é uma extensão do Guia prático de como sobreviver em um ônibus das grandes cidades, onde já analiso esta sofrida porém simpática vida urbana.
Abraços.