domingo, 9 de dezembro de 2012

A aranha arranha e me espanta

Sábado pra domingo, 1h30 da manhã, está este jovem que vos escreve sentado na mesa da sala navegando nos mares nem sempre serenos da internet, olhando a vida alheia no Facebook e procurando outras futilidades que não acrescentam nada de interessante na minha vida.

A sala estava escura, iluminada apenas pela luz que a televisão ligada emitia. Com sono, eu começava a fechar algumas abas do navegador quando de repente ela surge. Imponente e faceira, aparece saindo da cozinha com passos tranquilos, como se não estivesse se importando com o inusitado ambiente ao redor. Quando percebi que algo se mexia na penumbra, virei o rosto e olhei. Imediatamente exclamei:

VALHA MEU DEUS UMA ARANHA ENORME!!!!!!!!!11!!1!!!!1!!

Tenho aversão a aranhas. Aquelas pernas compridas e cabeludas passeando pela cerâmica, aquela face misteriosa, aquele ar de "olha como você se caga de medo de mim, seu idiota!", aquela superioridade enganchada em teias bem elaboradas que envolvem sua presa com perfeição.

Saí praticamente correndo da sala, desliguei tudo e fechei a porta pra ela não sair de lá. Lembrei logo que ela poderia ter vindo do meu quarto; em outras duas ocasiões apareceram por lá aranhas similares àquela, que me deixaram igualmente tenso por saber que eu dormia ao lado do inimigo. “PQP, deve ter um viveiro de aranhas por ali. Será que é da casa do vizinho?”, pensei.





Fui dormir meia hora depois, depois de vistoriar o quarto inteiro e me assegurar de que não havia mais nenhuma outra ameaça ali. No escuro, enrolado no cobertor dos pés à cabeça, fiquei pensando no que aquele malévolo animal de 8 patas que estava na sala estaria fazendo naquele momento. Provavelmente, centenas de planos malignos para arruinar os mais diversos setores da sociedade. Da minha sociedade, pelo menos.

Ao amanhecer, minha mãe acorda e vai para a sala, liga a televisão e em seguida vai à cozinha para fazer o café. No fogão, ela não percebeu quando uma coisa preta se aproximou de seus pés. Ela olha ligeiramente pra baixo, e quando percebe que a aranha está ali, leva um susto tão grande que quase faz virar a panelinha onde a água do café fervia, onde possivelmente o líquido quente cairia nos seus pés e na aranha, tostando-a ali mesmo, algo que eu estava com vontade de fazer nela desde quando a vi antes de ter ido dormir.

Ela sai em desabalada carreira para a casa da vizinha, e pede pra que alguém mate a aranha. O marido da vizinha se prontifica em ajudá-la, entra na cozinha da minha casa, vê o animal e diz à minha mãe:

– A senhora tem algum recipiente vazio aí?

– Tenho... por quê?

– Pra que eu a coloque dentro dele e a leve daqui, olha só como a bichinha tá acuada, coitada, ela quer ir pra um lugar mais sossegado.

– Peraí, você não vai matá-la? Já ia pegar o vidro de álcool pra derramar em cima dessa sebosa e tacar fogo nela!

– Não, não se pode matar um animal desses, pelo contrário, é uma vida que corre perigo!

– Vida que corre perigo? Pois então leve essa vida inocente pra longe daqui, por favor!

Então, o marido da vizinha não só chama a aranha pra dentro do recipiente, como ainda pega nela, deixa subir na mão dele, faz até um carinho no aracnídeo. A intimidade que o homem tinha com a aranha era tão grande que minha mãe ficou abismada, nem quis ver; resolveu ir pro canto e furar a tampa do recipiente onde a aranha iria ficar. Depois que termina ela diz:

– Pronto?

– Pronto. Olha como ela tá feliz agora? Parece até que ela sabe o que vou fazer com ela.

E ele sai na sua bicicleta com a aranha dentro do recipiente. Passa por algumas ruas do bairro, cruza avenidas até chegar numa grande rodovia que tem por entre as redondezas. Parando numa parte onde tem apenas mato e algumas indústrias instaladas, ele abre o recipiente e a deixa sair.




Segundo ele, a aranha sai muito contente, roçando suas pernas cabeludas no matagal que havia na beira da estrada. Ele ainda percebe que ela o olha e faz uma espécie de gesto, algo como um sorriso no rosto, de agradecimento por ela, depois de tanto procurar, conseguir chegar em um local agradável, ou, quem sabe, por ter voltado à seu habitat natural que vivia a algum tempo atrás. Ela apressa o passo e entra no meio dos matos crescidos, sumindo rapidamente.

Quando eu acordo, vou logo perguntando a mãe se ela havia visto a aranha, e ela me conta o que aconteceu. Eu respondo, indignado:

– Poxa! Porque que ele não tocou fogo nela de vez, hein? Já ia perguntar pra senhora onde ele a tinha queimado pra eu ir lá esfregar na cara dos restos mortais dela quem é que manda aqui! Deixa que da próxima vez que aparecer uma eu trato dela.

Quando uma aranha sai da toca e demora a voltar, geralmente a ‘companheira’ dela sai em sua busca, para averiguar se houve algum problema. Foi só eu fechar a boca que a suposta companheira da aranha aparece, na sala. Perversa, com autoridade suficiente pra, se tivesse o poder da fala, dizer em alto e bom som “quê que tá pegando aqui, hein? Vim atrás da minha esposa, quem tiver feito algo contra ela vai levar pêia muita!”.

Adivinhem quem correu pra chamar o marido da vizinha pra salvar uma vida que corria perigo.


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