quinta-feira, 19 de abril de 2012

Na verdade nada esconde essa minha timidez

Sou muito tímido. Sempre fui, desde pequeno. Já passei por várias por causa desse meu jeito medroso de ser. Vergonha de perguntar alguma coisa pro professor no meio da sala lotada, deixar de fazer algo com receio do que os outros vão pensar... Quantas vezes já passei da parada do ônibus porque não deu tempo de descer e fiquei com vergonha de gritar 'VAI DESCEEEER!' ou quando deixei de falar algo com medo e logo em seguida alguém fala exatamente o que eu pensava e é praticamente aplaudido de pé... casos não faltam.

É engraçado porque quem me conhece bem jura que eu não sou tímido coisa nenhuma, pelo contrário. Realmente, sou bem mais expansivo com quem tenho mais intimidade, brinco, falo bobagens, tento fazer as pessoas rirem de alguma coisa.

Posso dizer que hoje já melhorei bastante, já consigo me relacionar melhor com pessoas que não conheço (principalmente depois que comecei a trabalhar), mas sempre com uma certa cautela. Já consigo falar algo sério e sem gaguejar com alguém que nunca vi na vida (às vezes dá uma travadinha mas é normal).

Mas teve um dia que eu consegui superar isso tudo a fim de um objetivo. A partir de agora, flashbacks de memórias relevantes...


Colégio Castelo Branco, 2004. Semana de provas. Chega lá, faz a prova e vai pra casa. Beleza, rapidinho termino e ainda dá tempo de quando chegar em casa assistir a reprise do Dragonball Z, pensei. Entonces, quando termino a prova, saio do colégio já quase deserto, e chegando na parada de ônibus me deparo com um dilema: perdi 0,50 centavos do dinheiro da passagem. Opa, como assim? Revirei os bolsos, nada. Nenhuma moeda além dos 0,30 ou 0,40 que eu já tinha, aliás, nem lembro quanto eu tinha no bolso, só sabia que estava faltando 0,50 centavos.




E AGORA, JOSÉ? Não tinha ninguém conhecido ali, e em nenhum lugar, pra quem eu iria pedir dinheiro emprestado? Meu irmão estudava lá também, procurei-o na rua mas já era tarde, ele já tinha ido pra casa. Eu nem tinha intimidade pra pedir pro tio da banca de revista, mas nem ele estava lá. Pensei em pedir dinheiro no sinal de trânsito, mas eu achei que não iria ter coragem de pedir moedas assim, pra pessoas desconhecidas que passassem, até porque logo em seguida acabei tendo uma ideia melhor.

Voltei para o Castelo Branco, agora com quase ninguém, e fui atrás de um objetivo: falar com o diretor. Na diretoria fui informado que ele não estava na sala, mas sim em algum lugar do colégio. Lá fui eu atrás desse homem desejando que ele tivesse 50 centavos na carteira.





Já estava saindo do corredor principal quando o vejo de longe, com várias outras pessoas, pareciam ser importantes. Tomei coragem e fui até ele, chamando o nome dele baixinho, depois aumentando até ele me notar. "diretor Wilson! diretor Wilsôôôôôn!"


"Oi, meu jovem." 
*todos param e me olham*
"É que eu perdi meu dinheiro da passagem, o senhor teria 0,50 centavos pra me emprestar?"
"50 centavos?"
"É." 
*quase me tremendo*

Enfiou a mão no bolso e
"Hum, pegue aqui."
 
Uma moeda de Cinquenta centavos dessas grossinhas, que tem a imagem do Barão do Rio Branco, estadista, diplomata e historiador brasileiro, considerado o símbolo da diplomacia do Brasil (peguei essas informações na Wikipédia, claro).

"Muito obrigado, diretor Wilson!"
"Por nada."

Saí de lá como se tivesse conseguido um autógrafo do Bono Vox, Roberto Carlos, Neymar, sei lá, me senti independente, esperto, corajoso e burro, por ter medo de fazer as coisas pelo simples fato de ter medo. Apesar disso, foi bom, não me importei se estava com fome ou se já era tarde e eu ia perder o Dragonball Z, só em saber que eu ia pra casa depois de tomar uma atitude dessa já fiquei feliz.

E, bem, vou confessar uma coisa: se eu soubesse que seria simples assim, teria pedido logo 1 real.


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